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Ex-secretário de SOROCABA é citado em operação contra grupo CRIMINOSO na cidade

O ex-secretário de Administração da Prefeitura de Sorocaba, José Marcos Gomes Júnior, é citado nas investigações contra o grupo ligado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele atuou na gestão da prefeita Jaqueline Coutinho (PRD) . A informação aparece na denúncia feita pelo Ministério Púbico do Estado de São Paulo (MP-SP), a qual o g1 e a TV TEM tiveram acesso.

A organização criminosa foi alvo de uma operação do MP-SP no dia 16 de abril, onde três vereadores de diferentes cidades paulistas e mais 10 pessoas foram presos. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Guarulhos (SP) aponta que o PCC se infiltrou em empresas e órgãos públicos.

Em um dos diálogos, a pessoa responsável por receber dinheiro do grupo em Sorocaba é identificada como Junior. O número de telefone também é divulgado. Com base nele, a reportagem apurou que o contato pertence ao ex-secretário José Marcos.

A citação é de 24 de setembro de 2020. No dia seguinte, ele foi exonerado do cargo e, conforme alegado à época, ele saiu para atuar na campanha de Jaqueline Coutinho. Junior participava do governo desde maio de 2019.

Sorocaba é citada sete vezes na denúncia apresentada pelo Ministério Público de Guarulhos à Justiça. O documento tem 265 páginas e detalha o caminho percorrido pelo dinheiro pago pela empresa “Safe” às prefeituras e câmaras de diversas cidades.

Itinerário da corrupção

Durante as investigações, o Gaeco apreendeu 22 celulares e 22 notebooks dos suspeitos. Durante análise, foi possível identificar conversas entre os líderes da empresa “Safe” e o motorista responsável pelo o que os promotores chamaram de “itinerário da corrupção” – onde Sorocaba aparece em dois momentos.

No dia 24 de setembro de 2020, o motorista envia o roteiro que pretende fazer. Nele estão: Cubatão, Guarujá e Sorocaba. Ele pergunta se pode ser desta forma. Vagner Borges Dias, conhecido como Latrel, dono das empresas investigadas por relação com o PCC, responde reorganizando as entregas. Ele diz que o motorista deve passar por Guarujá, Cubatão e entregar para uma pessoa que ele se refere como “Júnior” em Sorocaba.

Na mensagem, Vagner chega a enviar o contato do “Júnior”, que teria recebido o dinheiro na época. E o motorista diz que seguirá a ordem.

Em outra mensagem, no dia 3 de junho de 2022, um funcionário enviou um áudio em que pede para Vagner confirmar a destinação de cada envelope, pois, estaria com dúvida, já que uma pessoa em que ele chama de “menina” teria colocado a identificação em algarismos romanos.

Ele envia as fotos dos envelopes com o dinheiro. Depois, aparece outra imagem, já com os nomes das cidades que receberiam as entregas: Santa Isabel, Caieiras e Sorocaba. Vagner confirma a informação.

O ex-secretário José Marcos Gomes Júnior negou conhecer o empresário que teria ligações com o PCC. Ele afirmou ainda que nunca esteve com Vagner ou qualquer outro emissário dele.

José disse ainda que está tranquilo e que não teve interferência em nenhum contrato relacionado ao empresário. Sobre seu telefone constar na troca de mensagens de Latrell Brito, ele afirmou que na época sua função era pública e seu telefone não era difícil de conseguir.

A ex-prefeita Jaqueline Coutinho, que não é citada na investigação, afirmou que desconhece esse fato. “Até porque se soubesse eu própria teria tomado as providências cabíveis se houvesse a mera suspeita de ilícito administrativo e/ou penal.”

Ela acrescentou. “Tem de ser cabalmente apurado para se esclarecer esse fato. Reitero que jamais tive qualquer tipo de contato com alguém dessa empresa ou o investigado. E entendo que é imprescindível que os fatos sejam esclarecidos.”

Nesta segunda-feira (29), o MP afirmou que contratos que envolvem Sorocaba já estão sob análise e serão compartilhados em trabalho conjunto ao Gaeco da cidade para o prosseguimento das investigações.

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Contabilidade

Sorocaba, inclusive, conforme a investigação, aparece na contabilidade das empresas investigadas e que teriam ligação com a organização criminosa. Em 2021, em um dos controles de movimentações financeiras do grupo, Sorocaba é relacionada com notas pendentes, revelou a investigação.

O documento, retirado de um dos aparelhos apreendidos, traz a menção da cidade com outras oito, na condições de “aguardando liberação”. A investigação cita “pulverização criminosa” de contratos em vários municípios, com o intuito de obter vantagens ilícitas.

Em um dos casos, há imagens de um envelope direcionado à cidade. O grupo usa código em algarismo romano, sendo que Sorocaba aparece como XX, mas uma letra entre parênteses. Posteriormente, o envelope de cor cinza é renomeado para “SORO”.

Duas empresas contratadas

Em Sorocaba, duas empresas investigadas por envolvimento em um grupo criminoso ligado ao PCC suspeitas de fraudarem licitações já firmaram contratos com a Câmara e a Prefeitura. Somados, os valores chegam a R$ 26,6 milhões, movimentados entre 2018 e 2024.

Conforme apurado pelo g1 e TV TEM, o primeiro contrato foi assinado com a Câmara de Sorocaba, na gestão do presidente Fernando Dini (Progressista). O valor inicial era de R$ 620 mil.

O mesmo contrato foi prorrogado por quatro vezes, nos anos de 2021, 2022 e 2023, durante a gestão de Claudio Sorocaba (PSD). Com isso, o valor total do contrato foi para R$ 1.446.600,00. Esse contrato é com a empresa Safe Java Comercial e Serviços, uma das investigadas na operação.

Os funcionários desta empresa, inclusive, afirmaram que entrarão na Justiça, pois alegam atraso nos salários e benefícios trabalhistas.

Já a empresa Vagner Dias Borges, também citada na investigação, teve contrato maior. Inicialmente, um dos contratos seria de quase R$ 6,2 milhões e foi assinado em 15 de setembro de 2022, pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos).

Entretanto, em maio de 2023, oito meses após a assinatura do primeiro documento, houve aditivo ao contrato de pouco mais de 10% do valor original, aumentando o total para mais de R$ 6,8 milhões.

Há ainda um contrato de R$ 8 milhões entre a empresa Vagner Dias Borges e a Prefeitura de Sorocaba que começou em setembro de 2018. O contrato teve várias modificações, de aumento e redução de valores.

Houve ainda um contrato emergencial durante a pandemia, no governo de Jaqueline Coutinho (PRD), na época do PSL, para serviços de limpeza do hospital de campanha, no valor de R$ 199 mil.

No total, segundo o Portal da Transparência da Prefeitura de Sorocaba, a empresa já recebeu dos cofres públicos municipais quase R$ 25 milhões.

O que dizem a Prefeitura e a Câmara

A Prefeitura de Sorocaba afirmou nesta segunda-feira (29) que, até o momento, “não recebeu qualquer intimação sobre o assunto, por parte do Ministério Público/Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco)”.

Disse ainda que teve acesso apenas a uma parte das investigações. “Tal documentação está em análise e é aguardado o acesso integral, para as eventuais providências”, e que o município sempre está à disposição das autoridades para quaisquer solicitações.

Já a Câmara de Sorocaba citou que rompeu o contrato com a empresa investigada em setembro de 2023, sob a alegação de falhas na prestação dos serviços.

“A empresa não presta mais serviços para a Câmara de Sorocaba. O contrato foi estabelecido cumprindo a lei de Licitações e, em nenhum momento, a Câmara Municipal foi alvo ou consultada sobre a Operação do Gaeco. O Legislativo está sempre pronto para auxiliar o Ministério Público em suas investigações.”

Operação

A operação, realizada pelo Gaeco, do MP-SP, prendeu três vereadores de diferentes cidades paulistas e mais 10 pessoas.

A suspeita é a de que os parlamentarem recebiam propina para favorecer as empresas do grupo nos contratos de prestação de serviço de limpeza e vigilância nas câmaras municipais.

Segundo o MP, os vereadores ficarão presos por cinco dias pra preservar as investigações, mas o prazo poderá ser ampliado.

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