
Nos últimos anos temos acompanhado a explosão do número de casos de violência contra mulheres no Brasil. Dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania mostram que, em 2025, a região de Sorocaba registrou 705 casos de violência contra a mulher, mas apenas 119 denúncias foram formalizadas.
Em 2024, foram mais de 2 mil registros, com somente 411 denúncias oficiais, o que escancara o abismo entre ocorrência e denúncia, revelando um problema estrutural e psicológico que segue presente no cotidiano de muitas brasileiras.
De violência física e doméstica a abusos psicológicos, morais e patrimoniais, a realidade imposta a milhares de mulheres ainda é marcada pela dor e pelo silêncio. E, para o advogado e coordenador do curso de Direito da Faculdade Anhanguera, Ângelo Aparecido, é exatamente nesse silêncio que a violência encontra terreno fértil para continuar.
“O medo de denunciar está ligado a diversos fatores, como dependência emocional, financeira, medo de represálias, vergonha e até desconhecimento sobre os próprios direitos. Muitas acreditam que não terão acolhimento ou que a denúncia não vai mudar sua realidade”, afirma.
Lei Maria da Penha
Ângelo destaca que, ao longo de quase duas décadas, a Lei Maria da Penha se tornou um marco na proteção às mulheres, estabelecendo medidas protetivas, criminalização do agressor, atendimento prioritário e até direito a matrícula em escolas para vítimas e seus filhos.
“Foram grandes conquistas, mas é preciso reconhecer que a eficácia da lei depende de sua aplicação, fiscalização e principalmente da confiança das mulheres em usá-la”, reforça a docente.
O desafio, segundo ele, vai além do campo jurídico. Envolve educação, autonomia econômica e políticas públicas de prevenção e acolhimento.
“Precisamos de ações contínuas, não só em datas simbólicas. A mulher precisa saber que não está sozinha, que tem onde buscar ajuda e que será ouvida com respeito”, afirma.
Ele destaca que, para mudar esse cenário, é essencial ampliar o debate desde cedo.
“Educar para a igualdade de gênero nas escolas, nas famílias e nas empresas é parte do caminho. Além disso, oferecer oportunidades para que as mulheres tenham independência financeira pode ser decisivo para sair de um relacionamento abusivo”, pontua.
Central de Atendimento à Mulher
Ângelo também reforça a importância de canais como o 180 (Central de Atendimento à Mulher), o 190 (Polícia Militar), que funcionam como porta de entrada para o rompimento do ciclo de violência, bem como o Núcleo de Prática Jurídicas (NPJ) da Faculdade de Direito da Anhanguera Sorocaba para atendimento e direcionamento em casos de violência doméstica.
“O silêncio não protege, ele perpetua. A mulher precisa ser acolhida, não julgada. A denúncia pode ser o primeiro passo para salvar uma vida.”