
Cada vez mais presentes nas cidades, os mosquitos agem em locais e horários diferentes. O Governo do Estado de São Paulo divulgou informações que podem auxilar a entender as diferenças do mosquito transmissor da dengue e do pernilongo.
O município de Sorocaba registrou mais de 5 mil casos confirmados de dengue em 2024, segundo aponta o Painel de Monitoramento do Estado de São Paulo.
Exterminar criadouros, usar repelente e colocar telas protetoras nas janelas e portas são formas já conhecidas de evitar a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como dengue, Zika e chikungunya.
Outra medida que pode ajudar é saber como o inseto age, entender que ele tem horário e locais mais prováveis para sugar nosso sangue e aprender a não confundi-lo com pernilongos.
Diferença do mosquito
As pernas listradas do Aedes aegypti podem até ajudar na identificação, mas como essa é uma característica presente em algumas espécies do gênero Aedes, ela não é necessariamente uma garantia de que você esteja de frente com um Aedes aegypti.
Um exemplo disso é o Aedes albopictus, que tem a mesma característica e também ocorre no Brasil. Por aqui, ele não é considerado um vetor da dengue– diferente do que ocorre no sudeste asiático, onde é o principal transmissor da doença.
O tamanho corporal dos mosquitos adultos também pode ajudar a diferenciá-los, embora isso possa variar dependendo das condições ambientais e da disposição de alimento a que os representantes de cada espécie sejam expostos.
Atração por sangue
Os mosquitos A. aegypti e A. albopictus despertam com o nascer do sol, período conhecido como crepúsculo matutino, e procuram por alimento geralmente nas primeiras horas da manhã.
O oposto ocorre com o pernilongo (C. quinquefasciatus), que tende a permanecer atrás de armários, sofás em casas de cachorro ou outros lugares com pouca luminosidade durante o dia e sai do repouso no fim da tarde. Seu pico de atuação ocorre por volta da meia-noite e vai decrescendo até a manhã do outro dia.
Apesar de agirem em horários diferentes, tanto as fêmeas do Aedes aegypti quanto as do Culex quinquefasciatus vivem à base de sangue humano porque o líquido é essencial para nutrir seus ovos, embora também consumam seiva de plantas.
As fêmeas do A. albopictus também se alimentam de sangue, mas “se viram bem” sugando aves e mamíferos por viverem em áreas de mata ou de intersecção entre áreas rurais e urbanas, ocupando principalmente o que chamamos de “peridomicílio” – o quintal desses ambientes.
Ao sugar o sangue de alguém infectado pela dengue, o A. aegypti se contamina com o vírus, embora não possa transmiti-lo a outras pessoas instantaneamente. A fêmea não adoece como o ser humano, mas pode ter diminuição de sua capacidade de voo e reprodução. Em questão de dias se torna capaz de transmitir o vírus para o humano pela sua saliva. O mesmo ocorre com os vírus da Zika e chikungunya.
Já os machos de Aedes e Culex se alimentam somente da seiva de plantas, fontes de carboidratos necessários para sobreviverem.
Temperatura e cheiros
Além do sangue, as fêmeas de Aedes e Culex também são atraídas por “cheiros” e gases expelidos por humanos e animais, captados através de quimiorreceptores nas antenas e em outras estruturas do corpo.
Além do cheiro, esses mosquitos também são atraídos pela temperatura corporal humana e por pessoas que vestem roupas de cores mais escuras, como preta, azul e vermelha.
Da mesma forma que existem cheiros atrativos, existem os odores que repelem os mosquitos. O exemplo mais popular são os repelentes de uso tópico ou de ambientes.
As fontes de alimento determinam inclusive onde ocorrem a cópula e a postura dos ovos. As fêmeas do A. aegypti preferem sobrevoar ambientes domésticos e fechados para ficar mais perto de humanos. Por consequência, depositam seus ovos em criadouros artificiais instalados em terrenos ou quintais, tais como caixas d’água destampadas, vasos de plantas, pneus e garrafas vazias, que enchem de água na chuva.
Outros ambientes menos relatados em campanhas de combate ao mosquito também podem ser criadouros: brinquedo de crianças, baldes, até tampinha de garrafa pet.
O mesmo ocorre com as fêmeas do A. albopictus, com a diferença de que elas optam por colocar os ovos em criadouros naturais como bromélias, buracos de árvores e troncos de bambus, que também acumulam água em períodos chuvosos.
Os ovos de ambas as espécies do gênero Aedes, que têm 5 mm de comprimento, são quase imperceptíveis ao olho humano e podem se manter intactos por até um ano em ambiente seco ou úmido, eclodindo somente quando submersos em água.
Da eclosão dos ovos surgem as larvas, que quadruplicam de tamanho em cerca de cinco dias até se transformarem em pupas, e, após dois dias de intensa metamorfose, se tornam adultas com capacidade de voo – momento considerado o “nascimento do mosquito”. Todo esse ciclo de vida do Aedes pode durar de 7 a 10 dias dependendo do calor, um acelerador do processo.
Durante a gestação dos ovos, fêmeas de A. aegypti infectadas com alguns arbovírus podem repassá-lo por transmissão vertical.
As fêmeas de C. quinquefasciatus também se alimentam de sangue humano, com a diferença de sobrevoarem tanto ambientes internos quanto externos em busca do alimento.
As fêmeas depositam seus ovos em água rica em matéria orgânica, especialmente em rios, córregos, piscinas sem tratamento com cloro, ou depósitos de água poluídos, onde ocorre a eclosão dos ovos em larvas em até 48h. Daí, são cinco dias até virar pupa e mais dois ou três dias até o nascimento do adulto.
O A. aegypti já foi vetor da febre amarela urbana no Brasil no começo do século 20 até a década de 1940, época que este tipo de transmissão foi erradicada do país.
Atualmente, o mosquito vetor da febre amarela silvestre é o mosquito Haemagogus, que ocorre em áreas florestais e pode infectar humanos. A vacinação contra a febre amarela foi um dos fatores essenciais para evitar a proliferação da doença em áreas urbanas e silvestres.